2005-01-23

George W. Bush - 2º Mandato

Ao contrário do que a grande maioria dos europeus gostaria, na qual eu me incluo, George W. Bush foi eleito Presidente dos EUA. E foi eleito porque fez uma política que agradou à maioria dos americanos, que quiserem lhe depositar a confiança para mais quatro anos pois são eles que elegem o seu Presidente e não o Resto do Mundo.
Ao contrário do que foi dito e escrito no nosso país, não foi uma maioria menos esclarecida contra uma maioria mais erudita que venceu, até porque esse argumento muito pouco democrático é falso, tendo o país realmente se dividido em todos os sectores da sociedade, sendo menos evidente em alguns Estados, tradicionalmente Republicanos ou Democratas.
Na Europa não podemos continuar a ter dois pesos e duas medidas para uma mesma situação. Se quando falámos em países menos desenvolvidos ou apenas nossos parceiros, que não respeitam as leis internacionais, consideramos que a cultura deles é diferente e não devemos impor pontos de vista, o mesmo se passa em relação aos EUA, que embora não concorde e ache completamente desumano muitas das suas políticas e leis, também eles têm a sua forma de se organizar e agir consoante os seus valores e princípios. A única excepção é para mim os Direitos do Homem, que se justificam impor sempre.
No entanto por serem uma sociedade Ocidental, partilharem connosco muitos dos seus princípios e por serem o país mais poderoso do Mundo têm uma responsabilidade acrescida e devem contribuir para o bom funcionamento das instituições mundiais, o que não tem sido a sua prática nos últimos anos.
Se a guerra do Afeganistão era perfeitamente aceitável e uma primeira resposta ao 11 de Setembro, a guerra contra o Iraque foi um completo atropelo aos acordais formais e informais que se tinham vindo a construir paulatinamente ao longo dos últimos anos e que iam no sentido de não iniciar guerras unilateralmente, mesmo quando suportadas pelo Direito Internacional, dado que depois de muitas voltas lá se conseguiu justificar a legalidade da guerra. Espero que pelo menos o mais importante objectivo da guerra seja conseguido, que é de aumentar o nível de oferta de petróleo nos mercados internacionais para manter estáveis os preços a médio e longo prazo, e que está a ser concretizado através de empresas que na sua grande maioria não são americanas, pois para os EUA é suficiente o beneficio do aumento da oferta.
Paradoxalmente concordo com o apoio do Estado Português aos Americanos, pela consciência que tenho do nosso peso relativo no Mundo e o facto de estarem no mesmo barco o nosso aliado mais antigo, a Inglaterra, o nosso maior aliado transatlântico, os EUA, e o nosso vizinho e maior parceiro comercial, a Espanha. Nenhum governante pragmático e responsável poderia ficar indiferente a este cenário.
Pelo discurso da tomada de posse de George W. Bush, é de prever uma continuação da política de segurança e defesa, pois tem o apoio do Congresso e da Câmara dos Representantes, vem da maior vitória de sempre dos republicanos com grande influência da doutrina neo-conservadora, acentua o já típico discurso da liberdade e democracia no Mundo, que é tão abrangente que pode dar para tudo e já se prevê novas invasões nomeadamente no Irão e o seu desejo de ficar na história. Estou certo que na História Mundial não ficará por boas razões, na história americana o tempo o dirá.
Seria um melhor caminho reformar a ONU e não hostiliza-la, reforçar a NATO, empenhar-se na resolução do conflito entre Israel e Palestina, apoiar economicamente os países mais pobres e assim evitar o surgimento de mais grupos radicais e reabilitar a coligação feito depois do 11 de Setembro para proceder a ataques cirúrgicos a terroristas onde quer que estejam assim como a tomada de medidas económicas e diplomáticas contra os Estados apoiantes do terrorismo.
O verdadeiro desafio a este segundo mandato é manter a economia de boa saúde, já que os americanos perdoam a chegada de alguns mortos e feridos em guerra, mas muito dificilmente uma baixa do seu nível de vida. Pode ser moralmente questionável, mas normalmente é o que sucede e pode levar a uma grande derrota dos republicanos nas próximas eleições.
O duplo défice, orçamental e externo, continua a preocupar os diversos agentes. Estão já previstos cortes em todos os departamentos, excepto para I&D em defesa, segurança interna e programa espacial. A nível externo irá continuar a política de desvalorização da moeda e a esperança da retoma das exportações.
O problema é deveras sério. A pujança económica nas últimas décadas dos EUA fez-se pela liderança em sectores tecnologicamente mais evoluídos e por um forte investimento em inovação. Os cortes já anunciados não são um bom presságio, assim como a concentração de verbas destinadas à I&D nos sectores já referidos, que não acrescentam competitividade à economia. A concorrência asiática tem sido feroz e a fuga de conhecimento para estes países tem diminuído o nível de investigação básica e aplicada nos EUA, o que pode já nos próximos anos ter consequências para o maior gigante mundial.
Não são poucas as preocupações e desafios que George W. Bush terá durante este mandato, mais as que ele próprio terá a oportunidade de criar na sua já popular forma de discutir e decidir. Não é por ser pouco inteligente que as vai criar, mas por achar convictamente que está correcto e que é o melhor para a América. Eu por cá não acho, e mais meio mundo também não, mas não é subestimando a sua pessoa que se faz o combate político que deve ser feito, na afirmação dos valores europeus na política internacional e pela luta de mais paz e justiça social no Mundo.

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