2004-12-04

Os Marretas

Vivemos num tempo de espectáculo em que é muito mais importante a forma como se faz do que o conteúdo. Esta constatação já feita por toda a gente que se interessa pela actualidade nacional é cada vez mais verdadeira e por incrível que pareça, criticada pelos seus próprios agentes, revestidos de intelectuais sérios é sólidos. Nós já sabemos quem eles são.
Os casos mais evidentes neste momento são os dois possíveis futuros primeiros-ministros, Pedro Santana Lopes e José Sócrates. Eles são as duas faces da mesma moeda, sendo o primeiro do PPD e o segundo de uma esquerda “moderna”, que é melhor forma de não tomar opções ideológicas. Não que estas sejam preponderantes no nosso tempo, mas é necessário uma definição geral dos políticos que temos. Durão Barroso também fugia de uma definição ideológica clara, mas era um pragmático estruturado, que transmitia confiança.
Pedro Santana Lopes ao contrário do que parece para já, está contentíssimo. Acabou de ganhar um bilhete que lhe dá direito a aparecer em todos os telejornais, todos os dias, durante 3 meses, mais direitos de antena. É aqui que ele se revela, que ele se sente à vontade e que mostra que sabe o que está a fazer, entretenimento. Ninguém duvida destas suas capacidades, só que mais uma vez pode ir parar a primeiro-ministro sem convencer as elites de que é competente, sem um programa de Governo reformador e estimulando o povo através de encenações primárias perdendo mais uma oportunidade de mudar mentalidades.
José Sócrates, por seu lado, aposta na diferenciação embora o produto seja o mesmo. Anda sempre com os papeis atrás, “racionaliza” o pensamento e adopta uma imagem muito cool. Não vai mudar muita coisa e até pode desfazer muitas que estão em curso e bem, para além de ter pertencido ao núcleo duro do pior Governo desde o 25 de Abril. Vai fingir que anda amuado e até vai ralhar muito durante o período de campanha para transmitir que tem convicções fortes e autoridade. Nem com Jorge Coelho ao lado se ficamos convencidos.
Iremos ter em todos os média esta disputa pela cadeira do poder que irá ser interessantíssima do ponto de vista da industria do entretenimento, nem que seja pelo facto da candidatura que perder, devolver ao mercado uma fornada de bons profissionais de marketing. Há sempre um lado positivo.
Não sou daqueles, que acham que antes é que era, mas reconheço que o entretenimento nos nossos dias, embora com muitas boas excepções, desceu no seu nível médio de qualidade. É por isso que não posso ficar indiferente quando chamam de marretas a personagens de um programa chamado “campanha eleitoral”, que se caracteriza sobretudo pela sua efemeridade. Os marretas marcaram a infância, adolescência e até idade adulta de muitos nós, serão sempre bonecos de referência no nosso imaginário de ficção e estão num lugar de honra nas prateleiras do melhor que foi feito em televisão. Eram divertidos, inteligentes e pedagógicos. É uma falta de consideração pelo papel que tiveram e têm na vida de todos nós estar a compará-los a produtos de qualidade duvidosa, sem garantia e perigosos.
Por isso quero aqui manifestar a minha indignação e levantar a voz na defesa dos sempre geniais MARRETAS !

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