O espanto de Sampaio
Jorge Sampaio está estupefacto com o que se passa nas estradas portuguesas. Sempre ouviu falar de números e sempre viu as notícias, mas só agora é que tomou consciência do problema da sinistralidade.
O problema não está só no Presidente. Este caso é paradigmático da nossa classe politica. É fechada, distante, rotineira, alheada e académica. Mesmo quando descem ao terreno, vão com tudo preparado para ouvir aquilo que querem e dizer aquilo que lhes apetece. Esta presidência aberta teve o mérito do confronto com a realidade. Mas estas acções não resolvem o autismo da classe politica. O contacto tem que ser diário e os politicos têm que tentar levar uma vida tanto quanto possível, parecida com os demais cidadãos. Nos países nórdicos é assim, há ministros que vão trabalhar de bicicleta.
Para esta situação, não é estranho o facto de os políticos serem todos amigos e frequentarem os mesmos locais. É normal em colegas de profissão, mas revela que andam todos a falar uns para os outros, mesmo sendo de partidos diferentes.
Não quero com isto fazer o elogio dos políticos à Alberto João, Ferreira Torres ou Tino, que só valem no terreno porque bebem vinho na tasca, vão às feiras e às festas populares. Isto provoca o inverso do actual problema. O excesso de proximidade não beneficia as decisões racionais e de interesse geral.
Os politicos têm que procurar um meio termo, falar com a sociedade civil constantemente e não só para as câmaras registarem, para assim evitarem os espantos com a realidade.
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